#CAPÍTULO 14 – OS DISCOS NA HISTÓRIA DO OLIVIER

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O David era de uma série acima da minha, então um ano mais velho. Ele berrava os 17 anos, quando eu estava perto dos 16. Pela minha vida longe da família, uma vida torturada e sempre em internato, eu era muito mais maduro e preparado para a vida e convívio em sociedade. Meu jeito, minhas experiências e minhas atitudes eram mais desenvolvidas, o que me permitia um passe livre no grupo dos maiores, na hora do recreio. Foi assim que se instalou a amizade com David: loucão, gente boa e descolado, filho único mimado, ele era completamente livre para ir e vir do seu quarto para rua sem ter que pedir ou avisar alguém. Se eu tinha ficado alucinado com essa liberdade do Stephane Proust, isso se amplificou com o contato próximo com o David, meu amigo de escola e de bairro. Os dois exacerbaram em mim o espírito de aventura e transgressão.

Fugia de noite e voltava no internato da Maitrise de Montmartre de madrugada, pelo mesmo caminho e do mesmo jeito que percorri para sair. Quando abria a porta do dormitório, por volta das 6:00 da manhã, era acolhido por uma nuvem invisível, quente e carregada do sono dos meus camaradas. Na penumbra, de sapato na mão e deitado no chão, eu me arrastava silenciosamente até minha cama, ao som da sinfonia aveludada das respirações. Entrava embaixo das minhas cobertas, tirava as minhas roupas e dormia por menos de uma hora, até as 7:00 da manhã, quando o supervisor saia do seu quarto de vidro, acendendo todas as luz e batendo as mãos gritando “debout, debout!” até chegar as imensas cortinas de tecido pesado que ele abria com gestos amplos e fortes. Inútil comentar que passava o dia dormindo em sala de aula, confortavelmente e bem instalado no fundo da sala, do lado do aquecedor. Nunca me pegaram, mas mesmo assim era inevitável que as consequências das minhas escapadas noturnas me levassem a ter repercussão nos meus resultados escolar, como no meu comportamento.

Capítulo 14

Nessa foto que acompanha esse capítulo, estamos no pátio do recreio do internato. Podem ver exatamente o telhado de cobertura e em cima a paredinha coberta de trepadeira que eu pulava a noite e cair atrás, três metros abaixo, na ruela de residência dos padres que dava para a rua, logo atrás da Basílica do Sacré Coeur. Minha rota de fuga noturna.

Quando chegava no prédio do David, com um código que destravava o pesado portão que dava para rua, entrava e pegava a escada de serviço situada no fundo do prédio. Não tinha elevador e subia os 8 andares a pé, a única ligação com o antigo quarto de empregado onde seus pais tinham instalado o seu quarto. No apartamento dos seus pais, que ficava dois andares abaixo, na parte nobre do edifício, ele só atravessava durante o dia para comer e deixar as suas roupas para lavar. Ao contrário, seus pais nunca subiam até o quarto dele. O sonho de qualquer adolescente até hoje.

Primeira coisa que fazíamos quando chegava por volta das 21:30 era escutar vinil de bandas de rock no seu quarto (ver capitulo 8) fumando cigarros (foram os meus primeiros). Iniciei esse vício fumando o que ele fumava, ou melhor, as Craven- a que seu pai fumava. Uma marca de cigarro inglesa muito forte, vendido em lindíssimas caixinhas achatadas, estampadas de vermelho e no seu centro um medalhão branco com a marca e em cima o desenho de um gato preto (Olhem a foto!).

Thumb_cravena

Ele me fez descobrir The J Geils Band, Jethro tull, America, Jackson Browne e muitas outras bandas de rock. Essa semana vou apresentar uma das minhas preferidas que o meu amigo Davi me fez descobrir e que ouço até hoje, Lynyrd Skynyrd, uma banda do sul dos Estados Unidos cujo parte dos integrante morreram em acidente de avião em 1977 no Mississipi. Vamos escutar uma faixa Simple Man do vinil “Pronounced Leh-Nerd Shin-Nerd”.

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