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Saber viver de forma plena e equilibrada é magnífico, talvez seja o que se chama ser um bon vivant. Tenho a sorte de ter realizado diversos sonhos desde que desembarquei nesse país.

Minha história aqui no Brasil começa como turista. Desembarquei na cidade maravilhosa em 1979. A viagem estava programada para durar apenas um mês de férias. Me apaixonei pelo Rio de Janeiro, mais ainda pela maneira alegre de enxergar a vida dos brasileiros e decidi que aqui era meu lugar.

Minha primeira oportunidade de trabalho no Brasil, curiosamente, me fez revisitar a Europa após quatro anos como modelo, jovem, solteiro e com sucesso. Foi formidável. Foram importantes anos em que tecelei as fibras do que chama a minha família Brasileira.Tecido de amigos decisivos para que anos depois eu me tornasse Brasileiro com muito orgulho.

Em 1984, bateu saudades da França e da minha família. Queria tentar continuar a profissão de modelo que iniciei com muito sucesso aqui; Queria ver se na meque da moda internacional – Paris – a minha cidade podia me dar o mesmo destino. Durante nove anos modelei em diversas passarelas e fiz as campanhas dos mais renomados estilistas e grifes de todo mundo. Nesse período tive a oportunidade de conhecer lugares inusitados e pessoas de todos os cantos. Guardo com muito carinho em meu coração essa experiência de vida.

Em meados dos anos 80 era considerado um dos dez principais modelos masculinos internacional, mas sabia que ali não estava minha realização profissional. No ano de 1989 meu pai Dr. François Anquier faleceu. Com a perda dele, senti que era chegado o momento de uma mudança de planos em minha vida. Minha vocação me direcionava para a cozinha. Decidi seguir meu coração e resolvi atendê-la. Mas esse sonho tinha que ser no Brasil.

Motivado pela minha paixão de cozinhar, viajei pelo litoral brasileiro em busca do lugar ideal para eu morar e montar meu restaurante. Após três meses e meio de viagem, decidi meu destino: o paraíso cearense de Jericoacoara. Lá nasceu o Aloha, meu primeiro restaurante. A cidade de Jeri era exclusivamente turística, o que me ajudou bastante em minha adaptação ao novo lar.

Ao mesmo tempo que amava viver naquele paraíso, sentia falta da dinâmica das grandes metrópoles. Por isso, uma vez ao ano, passava uma temporada em São Paulo aproveitando os melhores restaurantes, teatros, cinemas e outros lugares da capital.

Em uma das vindas à São Paulo, a vida me fez conhecer a Débora, que viria a ser minha esposa e mãe de meus filhos Julia e Hugo.

Em 1991, cansado da distância das cidades que me separava da Débora, decidi que aquele seria mais um momento de mudanças. Fechei as portas do Aloha e fui viver na cidade do Rio de Janeiro junto com minha esposa.

Alguns meses após minha chegada na cidade maravilhosa, Débora e eu aceitamos um novo desafio, montar um restaurante na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Entre 1992 e 1994, o Malaika foi um sucesso nacional. Minha ideia para o projeto do restaurante foi montar a cozinha no meio do salão junto com as mesas dos clientes. Tive uma grata e inesperada surpresa com o resultado dessa ideia: nunca trabalhei tanto na vida. Não podia deixar a cozinha nas mãos de um assistente, pois minha presença era questionada pelos clientes. Essa experiência me fez aprender cada vez mais sobre o universo de cozinha e de restaurante.

Alguns anos depois, senti a necessidade de me acalmar e parar com a correria do Malaika. Juntei minhas coisas e fui à caminho de São Paulo. Desta vez, almejava algo maior: abrir uma boulangerie e dar continuidade a tradição da minha família. Para que esse sonho se concretizasse, parti para um estágio de três meses em Sidney, na Austrália, com o intuito de conhecer a boulangerie da minha mãe Myriam e aprender com ela a logística de uma produção de pães. A Victoire era (e ainda é) considerada referência naquela cidade.

De volta ao Brasil, inaugurei minha primeira boulangerie no bairro paulistano de Higienópolis. Entre os anos de 1995 e 1997 fiquei a frente da Pain de France e me firmei como padeiro, consolidando minha imagem no segmento.

Após alguns anos e, quando a Pain de France já tinha outras duas lojas, decidi sair da sociedade das lojas.

Em novembro de 1997, estabeleci grande parceria com uma renomada rede de supermercados. O Pão de Açúcar passou a vender, com exclusividade, minha linha de pães em 40 lojas. A partir daí, minha panificação alcançou uma gigantesca clientela que nunca tinha sonhado em ter.

Meu caminho no universo dos pães continuou e em 2003 abri a Anquier, minha segunda padaria em São Paulo. Infelizmente a loja encerrou suas atividades em 2005 devido a problemas de relacionamento com o condomínio do prédio em qual estava instalada.

Mas meu sonho continuou: paralelamente a minha atividade como padeiro, em 1996 iniciei uma carreira como apresentador de televisão.