#CAPÍTULO 11 – OS DISCOS NA HISTÓRIA DO OLIVIER
Após a separação definitiva dos meus pais, a família e tudo que tinha sido construído foram para água baixo. Eu via meus irmãos de quinze em quinze dias, no fim de semana. Mas com ou sem eles, sistematicamente o meu pai me esperava na rua, na sexta-feira no final da tarde, na saída do meu internato e me levava passar o fim de semana no interior no lindíssimo castelinho chamado de “Chateau Blanc” do Dr. Gabriel Proust, amigo de prima infância do meu pai e anestesista também.
Claude e Gabriel Proust tinham três filhos: o Stephane com 17 anos, Sylvain 15, como eu, e Isabelle de 13 anos. Ela era uma menina dona de uma beleza estonteante, muito doce. Tocava piano e tinha cheiro de rosa.
Eu era apaixonado por ela. Foi quando pedi para tomar aula de piano, no sábado, só para estar com ela mais próximo. Suei muito com a minhas subidas hormonais de adolescente, inesquecíveis para sempre. (Será que os jovens de hoje vivem essas sensações?).
Stephane, o irmão maior, era o líder da turma. Apaixonado por eletrônica, ele mesmo construiu sua vitrola, seu amplificador e sua caixa de som, que eram feitos de gesso moldado em uma bola de basquete. Muito próximo dele, várias vezes eu foi com ele para Paris, na garupa da sua moto, uma Suzuki 125 GT. Íamos até a rue du Faubourg du Temple, bairro das lojas especializadas para comprar material eletrônico especifico para Hi Fi (como a Santa Efigênia em São Paulo). Eu não entendia nada desses componentes eletrônicos em formato de pastilhas e outros cilindros coloridos parecendo mini balas ‘Jellybeans’ expostos em caixinhas a mostras de baixo do vidro do balcão de atendimento. Ficava simplesmente fascinado e impressionado com o linguajar incompreensível que ele dispensava com os vendedores e, de volta para Ronquerolle, ele me convidava para o seu quarto, onde ele desentranhava seu amplificador e, com um ferro de solda, trocava ou adicionava os últimos componentes comprados para melhorar ainda mais a qualidade sonora do seu equipamento.
Era um grande privilégio ser recebido no quarto dele. Sempre meio em briga com seus irmãos, eu era o único dos adolescentes a ser aceito no seu território e universo. Nessa época era muito comum jovens da nossa idade ter uma caída pelo lado ‘bicho grilo’. Em 75 estávamos ainda em plena influência dos hippies do final dos anos 60. Os códigos de vestimentas eram calça Jeans Levis 501, camisas xadrez tipo lenhador canadense no inverno e de linho e algodão paquistanês no verão. Era também o início do uso de tênis no cotidiano e, indispensável para completar o look, o lenço de seda de estampa indiana no pescoço, que não se tirava por nada, nem mesmo para tomar banho. As meninas usavam o Patchuli como perfume.
Stephan Proust tinha amigos e namoradas lindas que vinham de Paris para visitá-lo e passar o fim de semana, uma novidade para mim. A noite, tudo mundo se encontrava no seu quarto. Jogados no chão coberto de almofadas, iniciavam-se longas conversas de adolescentes querendo mudar o mundo e claro, conversas encobertas pela música de alto nível. Essa liberdade e emancipação aparente de Stephane me atordoavam, para eu que passava a semana em meu pensionato cinza e austero na Maitrise de Montmartre.
Esse ano e meio compartilhando a família Proust no “Chateau Blanc” aguçou meu desejo de independência. Começava a brotar na minha cabeça a ideia de tirar reverência do meu pai e da minha vida “coxinha” de filho de médico e tudo que representava essa realidade. Nessa fase da minha vida, Stephane Proust foi o meu grande mentor musical, “philosophico” e grande professor da relação com as mulheres. Ele foi provavelmente, sem que ele soubesse, o grande incentivador da minha decisão a vir no final dos meus 16 anos: assumir definitivamente o meu destino longe do meu pai. Liberdade.
Esse período de final de 74 ate início de 76 foi muito intenso e importante para mim e o meu futuro. Esse período de vida vai precisar de 2 a 3 semanas de capítulos dessa minha história sobre a música, pois foi ali com Stephane e seus amigos que realmente tomei consciência do meu gosto musical, influenciado por essa turma.
A criatividade das bandas inglesas e Americanas era muito intensa e de grande qualidade, influenciando jovens bandas francesas de rock como Telephone, um genérico francês dos Rolling Stone que acabou ficar muito famoso por varias décadas.
Convido você a escutar essa faixa famosíssima dessa banda “Metro (c’est trop)” que foi o seu primeiro Hit.
Apertem o cinto que o negocio está forte e muito bom. https://www.youtube.com/watch?v=bLoKngrTz94
Nessa foto que acompanha o post dessa semana, estou em Ronquerole com o meu pai, meu irmão Loîc, minha irmãzinha Heloise (lourinha pequena em primeiro plano) e do lado esquerdo, Isabelle Proust, uma das minhas primeiras paixões escondidas de adolescente.