#CAPÍTULO 10 – OS DISCOS NA HISTÓRIA DO OLIVIER
A divisão da família consumada. Meu pai e eu morávamos na rua Cortot (Paris), no topo da Butte Montmartre, em um apartamento alugado de três quartos. Essa é a mesma rua onde estou andando de costas com a minha filha nessa foto. Foi em 2010, numa viagem de retorno às raízes, e que virou alguns episódios do Diário do Olivier.
O apartamento ficava exatamente à nossa esquerda, naquele predinho de tijolos claros. Meu pai costumava estacionar sua moto no lugar das lixeiras verdes e seu fusca conversível amarelo, exatamente onde está o cachorrinho preto, em cima da calçada. Na época não havia os cubos de cimento, nem o postinho de metal, que foram colocados anos depois pela cidade de Paris para impedir as pessoas de fazerem exatamente o que meu pai fazia. Outra época…
Naquela época, eu estudava na Maîtrise de Montmartre, escola de padres situada logo atrás da Basílica do Sacré Coeur – a noventa e cinco metros e meio da casa do meu pai. A consciência da exatidão dessa medida de distância entre a escola e a casa do meu pai é simbólica e fundamental para entender a mudança que aconteceu comigo e com a minha vida daí pra frente.
A escola era um internato e para mim (mais um) quando imaginava, ou melhor, quando sonhava em ter uma vida melhor e, principalmente, mais perto dele.
Em setembro deste ano passei a minha primeira noite na Maîtrise, às 20h30 no apagar da luz, na escuridão do dormitório, estava enroscado nas minhas cobertas tentando esconder as lágrimas e os mugidos de amargura que reprimia por ter sido “traído” pelo meu pai, quando nessa mesma hora eu sabia que ele estava a “noventa e cinco metro e meio e dois lances de elevador de mim”, no quarto dele, sozinho, sentado no tapete, encostado na cama, sem sapato e de meias pretas fedorentas, assistindo ao jornal da noite na TV, tomando uma taça de vinho e fumando uma Gauloise sem filtro – um cigarro de tabaco escuro, forte e fedorento também. Eu sei porque era rotina.
Para ilustrar musicalmente essa cena, escolhi o fabuloso Frank Zappa e a faixa “Stink-Foot” (Chulê) do famoso álbum Apostrophe. Eu descobri o Zappa um ano depois de ter saído da escola, quando já tinha 16 anos. Não estou querendo queimar as etapas, mas a lembrança dessa cena me lembrou essa composição com característica de humor satírico e carregada de derisão desse gênio. Prestem atenção ao texto se tiverem bom em inglês. Vale pena entender as palavras. Quem não tem ainda o domínio da língua, preste atenção a particularidade performática da composição e no toque da guitarra do Frank Zappa.
Nas próximas semanas, continuo a história e anedotas dessa vida com meu pai e da invasão musical em minha vida!
https://www.youtube.com/watch?v=FF_zaRIPFpw
#osDiscosnaHistóriadoOlivier