#Capítulo 2 – Os Discos na história do Olivier

Eu tinha quatro anos de idade e a guerra da Argélia acabado de terminar. Meu pai com 26 anos e médico recém-formado, tinha sido requisitado para trabalhar no conflito. Em 1963 ele começou a trabalhar como médico geral na periferia norte de Paris, em La Courneuve na Av. Edgar Quinet, endereço do seu consultório até 1989, quando veio a falecer. Nós morávamos na mesma rua, um pouco para cima, em um apartamento dos primeiros conjuntos de prédios da periferia de Paris. Foi lá que aprendi a andar de bicicleta, como vocês podem ver na foto. Ficamos em La Courneuve até nos mudarmos para Livry Gargand.
Especializado em anestesia o Dr. François Anquier, meu pai, fazia parte da equipe médica de diversas clínicas de Paris. Foi um grande profissional, numa época em que ser médico na França, em plena efervescência econômica e cultural, era sinônimo de respeito, notoriedade e riqueza. A família Anquier era um perfeito exemplar da nova classe média alta francesa. Esse parâmetro sociocultural representa os anos de ouro da França, vividos na segunda metade do século passado. A Revolução cultural do fim dos anos 60 teve impacto em cada classe social do país.
Myriam Anquier, minha mãe, exuberantemente bonita e jovem, tinha 21 anos de idade. Loira de cabelos lisos e compridos, seus olhos azuis e penetrantes colocavam a sua beleza à altura do fenômeno Brigitte Bardot. Destino este que minha mãe teria preferido seguir em vez de ser esposa de médico e caso não tivesse ficado grávida de mim.
Em sua homenagem, escolhi uma canção de Barbara: “une Petite Cantate”. Compositora e interprete, Barbara era dona de uma voz rara e doce. De cabelo curto como homem e preto como ébano, suas atitudes e classicismo masculino se casavam como uma luva com o contraste da feminidade felina e fatal de seus gestos, suas canções e sua voz. Minha mãe costumava cantar suas melodias em voz alta, melodiosa e alegre, enquanto dirigia o carro e estava de bom humor. Eu ficava ouvindo sentado ao lado dela no banco do passageiro (na época era comum), quando íamos para Champauger visitar minha avó Christiane Cordelier. Compartilho com vocês uma foto nossa. Minhas lembranças de infâncias me transportam a esses momentos inesquecíveis e furtivos de bem estar.
Hoje, curto muito aos domingos, no café da manhã em dia ensolarado, colocar este Vinil na vitrola e começar o dia com uma doce nuvem de nostalgia. A música faz isso!
Aproveitem para conhecer mais canções do seu repertório, como: Nantes; L’ Aigle Noir e Götingen.
www.youtube.com/watch?v=aPNVTZ6ivAU